terça-feira, 27 de abril de 2010

PAULO COELHO: A INDÚSTRIA EDITORIAL SE ADAPTA OU MORRE

Para escritor, celulares darão novo fôlego à literatura
Escritor foi o primeiro brasileiro a transformar toda a sua obra em e-books e colocá-la à venda na Amazon.

São Paulo - "Ou a indústria editorial se adapta ou morre." A afirmação, com pretensão de sentença, é do escritor best seller Paulo Coelho. O criador de O Alquimista se refere, é claro, à suposta ameaça que os e-books, livros em formato digital, oferecem ao modelo consagrado. De olho na onda virtual que já começou, ele resolveu surfar: foi o primeiro autor brasileiro a transformar toda a sua obra em e-books e colocá-la à venda na Amazon.
Desde janeiro, os adeptos do e-reader Kindle, dispositivo de leitura eletrônica da livraria on-line, podem comprar, por exemplo, a edição virtual de Veronika Decide Morrer por 9,19 dólares (equivalente a 16 reais) - em papel, disponível na Amazon só em inglês, sai por 11,19 dólares (19,50 reais); nas livrarias brasileiras, em português, custa 24,90 reias. Na Amazon é possível encontrar também e-books em inglês, francês e espanhol assinados pelo "ex-mago" - título que, há alguns anos, ele preteriu pelo de "imortal" da Academia Brasileira de Letras.
Na entrevista abaixo, realizada por e-mail, Coelho fala sobre o avanço das obras e dispositivos de leitura em formato digital, critica editores brasileiros e prevê que os celulares darão novo fôlego à literatura.
Veja.com: O senhor foi um dos primeiros escritores a oferecer suas obras em formato digital. Por quê?
Paulo Coelho: Porque o universo de leitura está se ampliando para além dos livros. Hoje em dia, com Twitter, Facebook e meu blog, estou diariamente escrevendo, única e exclusivamente por prazer, para este tipo de plataforma. O e-book é apenas um suporte diferente para o formato clássico.
Veja.com: Qual foi a reação de seu editor quando o senhor optou por vender os direitos digitais de suas obras diretamente para a Amazon?
Coelho: Eu sempre retive os direitos eletrônicos. Vendi os da língua inglesa para a editora HarperCollins, porque ela veio com uma proposta clara e consistente. As outras propostas mostravam um certo desconhecimento do mercado. Como adoro internet, imaginei que em algum momento os suportes que não dependessem do papel iriam terminar vingando. Há tentativas desde a década passada, mas o Kindle foi o primeiro projeto consistente, e resolvi apostar em outras línguas além do inglês. Colocar meus livros em português não foi difícil, mas para conseguir comprar as traduções em outras línguas demorou mais que imaginava. Em primeiro lugar, porque nenhum autor tinha proposto isso. Em segundo, porque embora os editores vejam o potencial do e-reader, ainda não conseguiram saber exatamente quais os próximos passos.

Veja.com: Como o senhor vê a chegada dos e-readers e o impacto disso no mercado editorial?
Coelho: O impacto será a longo prazo, mas virá. Não é um factóide para chamar atenção para a literatura, mas uma mudança radical, como foi a do disco para o suporte digital. E da mesma maneira como a indústria da música sentiu o impacto da internet, a indústria editorial ou se adapta ou morre. Por outro lado, assim como o teatro continuou existindo depois do cinema, e o cinema continuou existindo depois da televisão, o mesmo acontecerá com o livro em papel e o livro digital.
Veja.com: No Brasil, os editores discutem bastante, mas parecem não fazer idéia do que vai acontecer.
Coelho: Os editores do mundo inteiro estão discutindo muito. Mas os ingleses e americanos estão agindo enquanto os outros discutem. A minha parceria com a HarperCollins tem dado resultados excelentes.
Veja.com: É possível pensar no fim das livrarias?
Coelho: O que mais me preocupa são as livrarias. Não há nada melhor que uma livraria: convívio, atmosfera, possibilidade de encontros interessantes. Mas também, há alguns anos, o mercado nota uma nova tendência: em todos os países as grandes cadeias estão tomando o lugar das livrarias independentes. De qualquer maneira, tenho certeza de que as livrarias continuarão existindo, como um lugar de culto, de respeito.
Veja.com: Há alguma diferença entre escrever para o papel e para o livro digital?
Coelho: Existe uma grande diferença entre escrever para uma plataforma digital, como um blog, e para um livro. São duas linguagens que não combinam. Mas a única diferença que existe entre o papel e o digital é o suporte para leitura.
Veja.com: Teme-se que e-book abra espaço para um novo tipo de pirataria. Como ficaria a remuneração dos autores?
Coelho: Pirataria de livros já existe desde que os sites P2P (peer-to-peer, ou par a par, rede de computadores que permite a troca de dados entre usuários) foram criados. Mas com o e-book vai ficar muitíssimo mais difícil, porque vem com arquivos encriptados - não é a mesma coisa que copiar ou escanear um livro e colocar na web. Com relação à remuneração de autores: o autor pode vender diretamente para a livraria virtual e passar o resto dos seus dias se chateando com faturas, contas, problemas etc. Ou pode fazer como eu fiz: escolher uma editora que se encarrega disso, e remunerá-la com uma pequena porcentagem. No meu caso, a Gold Editora se encarregou de tudo. Nós só fornecemos as traduções e os livros originais em português. Entretanto, se você está falando da remuneração de autores sendo lesada pela "pirataria": eu tenho livros (físicos) piratas em quase todos os países da África, alguns da America Latina, e no continente asiático. Você acha que isso me chateia? A pirataria, neste caso, é uma glória - só autores que vendem muito são pirateados.
Veja.com: O senhor acredita que os e-books podem ajudar a conquistar novos leitores? Ou mais: a aumentar o índice de leitura num país como o Brasil?
Coelho: Não, porque o suporte custa caro. O que eventualmente poderá ajudar a conquistar leitores, mas leitores de um outro tipo de texto, será o telefone celular. O escritor do futuro será capaz de escrever Guerra e Paz em dez páginas.
Veja.com: O senhor tem um e-reader? Afinal, como é ler nesse tipo de equipamento?
Coelho: Tenho o Sony e o Kindle. Hoje em dia, como viajo muito, só tenho lido nesse tipo de suporte. Compro o novo livro na hora utilizando as redes wi-fi, carrego menos peso. É justamente pela facilidade de comprar livros que a indústria do e-book está se movimentando mais.
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O que você achou sobre as opiniões do Paulo? A indústria editorial morrerá? O livro físico conseguirá conviver com o virtual? E as livrarias deixarão de existir? E a pirataria, será uma ameaça real para os e-books? Escrever para celulares, o quê? Aguardo tua opinião!

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